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18 de novembro de 2015

A Revolução do Corpo – Daniel Vianna

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Imagine se um dia os órgãos e células do seu corpo entrassem em conflito uns com os outros…

Não se sabe muito bem como tudo começou.

Testemunhas celulares diriam que uma mancha escura e cinza havia tomado conta do neocortex.

Assim, de repente.

Perdão, agora ele gosta de ser chamado de Lord Cortex (e “ai” de quem se esquecer!).

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A tal mancha escura fez com que Cortex, quer dizer, “o Lord”, tomasse algumas atitudes impopulares, as quais tentarei ordenar cronologicamente:

  • De uma hora para outra, deu “passe livre” para o Anfitrião se alimentar da forma como bem entendesse. Resultado: ele parou de frequentar a academia e começou a comer no pior self-service da cidade;
  • Os outros órgãos não haviam notado a manobra de Lord Cortex. Como consequência, a qualidade dos nutrientes trazidos pelo sangue piorou muito. Sabiam que estavam sendo envenenados aos poucos. Células e órgãos do lado direito imediatamente acusaram o Estômago de estar fazendo corpo mole e de ser incompetente: foi o suficiente para acender a ira do lado esquerdo, que partiu em defesa do pobre Estômago;
  • Lord Cortex, aproveitando-se da situação, passou então a inventar boatos e espalhar a desavença por todas as regiões do corpo: das células no calo do pé à ponta do fio de cabelo.

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E, então, o caos foi instaurado: pé direito chutando o pé esquerdo, mão direita socando a esquerda, células bombardeando células. As células do lado direito praticavam atentados quase diários contra as células do lado direito. Disfarçavam-se, fingiam que pertenciam ao seu grupo e se autodestruíam quando chegavam mais perto. As do lado esquerdo não hesitavam em revidar, com bombardeios de toxinas de todos os tipos, matando milhões de células inocentes.

Quando as pobres células não morriam através dos atentados, morriam por desnutrição ou envenenamento – passaram a se alimentar cada vez menos pois a qualidade dos nutrientes havia piorado muito. Quem resolvia se arriscar, não durava muito tempo.

Algumas glândulas tentavam cobrir os eventos de forma independente e reportavam tudo ao Coração que, apesar de residir no lado esquerdo, não havia tomado partido de nenhum dos lados: apenas fazia suas anotações e observava atentamente, para tentar desvendar a origem de todo aquele conflito. Sentia que estava adoecendo e, se não agisse logo, mais cedo ou mais tarde, ele mesmo seria uma das vítimas!

Enquanto isso, Lord Cortex se divertia!

Manobrava o Anfitrião como um fantoche. Ele se metia em brigas de bar, discutia com qualquer um, principalmente nas redes sociais, reclamava de tudo e de todos! Os danos já haviam chegado ao pessoal da epiderme: o Anfitrião havia se metido em uma briga e estava cheio de hematomas. Internamente, a qualidade dos nutrientes continuava abaixo do aceitável.

Lord Cortex sabia que se aquilo continuasse, mais cedo ou mais tarde, ele também seria afetado: o Anfitrião já não tinha mais interesse por livros e só queria saber de assistir televisão – principalmente novelas e telejornais. Como consequência, as sinapses haviam diminuído e os neurônios estavam adoecendo. Mas a sua sede pelo poder era maior. Muito maior!

Meses se passaram e o comportamento errático do Anfitrião começou a chamar a atenção do Coração. Decidiu, então, convocar um conselho, exigindo a presença de Lord Cortex, de quem já estava começando a suspeitar.

Para a realização do conselho, o Coração solicitou à Lord Cortex que deixasse o Anfitrião em estado de repouso – de preferência, meditativo – assim, todos os sistemas, órgãos e respectivas células poderiam ser escutados com mais atenção. Ele obedeceu, pois sabia que dependia do Coração para continuar funcionando.

E assim o Coração abriu os trabalhos:

“Meus queridos amigos e amigas! Agora que o nosso Anfitrião está em repouso, finalmente posso escutá-los – tanto o pessoal do lado direito, como do lado esquerdo! Cortex, consegue me escutar aí em cima?!” (O Coração fez questão de não pronunciar “Lord”.)

“Sim, estou aqui!” – respondeu através de uma mensagem codificada por meio de células de sua confiança.

As glândulas estavam a postos, mantendo a postura independente e intervindo, sempre que fosse necessário.

E o coração, com a fala mansa, continuou:

“Devo lembrá-los de que devemos cessar esse conflito imediatamente! Ainda não sabemos ao certo quem ou o quê tem levado o nosso Anfitrião a se comportar dessa forma. Mas uma coisa é certa: todos nós habitamos nele! E precisamos voltar a funcionar em harmonia! Cada qual com o seu papel. Precisamos baixar a guarda! Lembrai-vos de nosso período embrionário, quando éramos apenas um ponto e muito mais próximos. Precisamos reconciliar nossas diferenças! Voltar a respeitar uns aos outros – independente do lado que se ocupa no corpo! Pois é graças a esse corpo que continuamos inteiros e funcionando.”

Nesse instante, o Coração notou certo buchicho vindo dos representantes do lado esquerdo. Interrompeu a sua fala e pediu uma hora de intervalo.

“O que está acontecendo?” – o Coração perguntou discretamente a uma das glândulas. De imediato, a glândula estabeleceu um vínculo direto com o Coração e falou-lhe em particular: “Lord Cortex está por trás disso! Captei uma mensagem criptografada vinda lá de cima: é ele que está manipulando o pessoal do lado esquerdo!”

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Nesse instante, tudo ficou claro para o Coração!

Disfarçadamente, diminuiu o número de batimentos e esperou alguns minutos até Lord Cortex ficar zonzo. Na sequência, mandou duas glândulas analisarem o que estava alterando o seu comportamento. Pouco tempo depois, as glândulas reportaram a ele que havia uma enorme mancha se alastrando pelos domínios do Lord, alterando todo o seu comportamento.

O Coração resolveu manter o Lord em estado de repouso por mais tempo. Na sequência, esclareceu aos presentes o que havia descoberto.

Indignação, revolta, lágrimas de desespero: todos estavam boquiabertos com a crueldade e poder de manipulação do Lord. Finalmente haviam descoberto quem havia sido o responsável pelo envenenamento do sangue, pelos atentados e pela morte de milhões de células inocentes! O Coração, entretanto, pediu a todos que o perdoassem, o que gerou uma revolta ainda maior:

“Vocês devem perdoá-lo! Ele não sabia o que estava fazendo! Foi a mancha! Ela, sim, é a nossa inimiga! E é contra ela que devemos lutar!”

Após muitas horas de diálogos e negociações, o Coração finalmente conseguiu convencer os demais a ajudarem no combate à mancha e, assim, restabelecer o equilíbrio.

Poucos dias depois, com muito esforço coletivo e energia positiva, a mancha havia desaparecido por completo.

O neocortex finalmente havia voltado a ser ele mesmo! Alguns, por força do hábito, ainda o chamavam de “Lord”. E ele mesmo tratava de corrigí-los, dizendo que ali, ninguém deveria ter privilégios sobre o outro – com uma ligeira exceção para o Coração: afinal, ele era o responsável por ter conduzido todos à harmonia novamente!

Quanto ao Anfitrião, este não poderia estar melhor! Está mais saudável do que nunca!

Se alimenta bem, se exercita, está com vida social intensa. Não arruma mais brigas, lê muito e toma mais cuidado com o que fala.

E, aos poucos, sente que, enfim, está entendendo o que é o Amor!

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Comentários

comments

6 Comments on “A Revolução do Corpo – Daniel Vianna

Elisa Batagini
19 de novembro de 2015 em 15:38

Simplesmente o melhor texto até agora, parabéns!
Que a mensagem de amor se espalhe a cada um que ler esse texto brilhante!

Responder
odespertador
23 de novembro de 2015 em 15:15

Obrigado querida Elisa!! Continue lendo e comentando nossos textos!!

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Edina Mara
19 de novembro de 2015 em 15:34

Outro texto para refletirmos. Bom demais! Afinal quem manda mesmo e o coracao. Abracos Dani. Sempre aguardando os proximos….

Responder
odespertador
23 de novembro de 2015 em 15:16

Edina, muito obrigado pelo comentário! Sim, o coração manda…mas precisamos penar muito para dar voz à ele não é mesmo?! Bjs Dani

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Renato
19 de novembro de 2015 em 09:14

Razão e sensibilidade… As duas asas para voar. Do equilíbrio nasce um bom voo.

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odespertador
23 de novembro de 2015 em 15:18

Obrigado pelo comentário QQ! Sim, correto….a busca eterna da humanidade! Abraços DANI

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