Sobre a religião “humana”

Nossa sociedade vem se tornando especialista em tornar “novas” todas as coisas.
Procura renomear tudo, inverter tudo, relativizar tudo.
Estaria a solução de todos os nossos problemas nesta galopante revolução linguística ou na própria evolução tecnológica que vemos em nossos dias?
Ou estaria o ser humano sujeito a mais um engodo? Sujeito a mais uma tentativa de enganar a si mesmo, olhando apenas para a superfície das coisas?
Podemos não nos recordar disso, mas há muitos e muitos anos – milênios, na verdade – fomos submetidos a um “aplique” muito parecido.
Retornando ao Éden, uma voz suave e doce nos prometeu um “novo” tipo de liberdade, um novo tipo de “emancipação“.
“Novos” porque tinham como elementos a autossuficiência e o orgulho, elementos até então desconhecidos pela consciência humana.
Ao morder a maçã, selamos o acordo.
Mas, infelizmente, sem ler direito o contrato e suas implicações!
A partir daquele segundo, assumimos o “Eu” como ferramenta definitiva para a solução dos nossos próprios dramas,
como regente absoluto da vida.
Ali fundamos uma nova “religião”, uma nova conduta, uma nova forma de existir.
Limitada ao jugo dos cinco sentidos, à miopia de uma visão exclusivamente materialista da vida.
Na religião “humana”, o que vale é o conforto, o bem-estar, sentir-se bem consigo mesmo.
O ser humano como centro, o senhor absoluto de si mesmo e que deve encontrar seus próprios caminhos para “felicidade”
(palavrinha que, diga-se de passagem, temos uma enorme dificuldade para definir!)
Na religião “humana”, uma indiscriminada prestação de cultos ao intelecto e ao espelho.
Para que antigos mandamentos se podemos criar as nossas próprias leis, ideologias, sistemas?
Para que milagres se temos hoje a tão “objetiva” Ciência?
Para que desenvolver virtudes na calada da noite, sob o risco de vaias e gargalhadas, quando se pode caminhar muito bem com todo tipo de miséria, perversão e mentiras, bem à luz do dia, sob o “risco” de fortes aplausos, “likes” e compartilhamentos?
Na religião “humana”, não há sentido algum na dor e no sacrifício.
Qualquer fé que não seja em si mesmo é um devaneio.
As energias capitais são dignas de convivência.
São como bons vizinhos que batem à nossa porta e trazem o prato principal e a sobremesa –
verdadeiros combustíveis para seguirmos com a nossa “profissão de fé” em nós mesmos.
Para onde nos levará a tal religião “humana”?
Depois de tantos séculos de tentativas para removê-Lo da equação, será que ainda teremos a ousadia de dizer:
“Só DEUS é quem sabe”!?
(Daniel Vianna Hunziker)